Há alguns dias, venho comentando sobre o programa Re[corte]Cultural da TV Educativa (TVE Brasil) exibido, aqui em BH, pela Rede Minas. Originalmente, vai ao ar na TV Educativa em horário Nobre (20:30) e tem reprise à Meia-Noite – horário transmitido pela Rede Minas.
Ok! Mas o que tem de diferente no Re[corte]Cultural? Tudo!
Primeiro, o programa não tem o propósito de um discurso politicamente correto e no entanto o faz de maneira informal e improvisada sem ser boçal ou efêmero. O apresentador Michel Melamed faz isso muito bem sem se render a modismos e banalidades.
A idéia do programa é falar de cultura com irreverência. “A idéia era fazer uma revista às avessas, isto é, enquanto as revistas tradicionalmente se dedicam a lançamentos, estréias e vernissagens, a gente se dedica, ao contrário, à gênese da obra”, diz Michel a uma matéria para o portal Terra.
Re[corte]Cultural tem três quadros:
Debatedeira – O apresentador recebe um convidado no estúdio do programa. Esqueça o convidado sentado diante de Michel, pois a informalidade toma conta, sem subestimar o conteúdo, permitindo que entrevistado e entrevistador travem uma conversa que não se caracteriza pelo ping-pong estilo Marília Gabriela. Quem dita o ritmo da conversa é a própria conversa. Logo, os protagonistas do quadro andam pelo cenário sem direção guiados, apenas, por uma boa conversa, podendo até, entrevistado virar entrevistador...
Residência: Michel vai a casa de um entrevistado. Vi uma entrevista com Marcelo Yuka, onde, permeado pela informalidade, Michel conversava com um dos produtores de Yuka, na porta, aguardando sua vez. Mesmo nessas horas o assunto é o mesmo: cultura.
Café Expresso: Neste último, Michel encontra seu entrevistado num café ou livraria para falar de cultura (não poderia ser diferente). Esta semana o entrevistado do Café Expresso foi Zeca Baleiro que fez uma observações bacanas quando falou de músicas que chamamos de lixo.
[onde estão os gênios?]
Nessa conversa com Zeca Baleiro, me chamou a atenção uma observação que Baleiro fez: “ É fácil elogiar os gênios de quarenta anos atrás, mas temos gênios espalhados por aí hoje.” Michel, não perdeu tempo e perguntou: “Quais são os gênios de hoje?” Sem pensar duas vezes, Baleiro respondeu aos risos: “Não vou dar esse mole!!”. Como é difícil dizer que admiramos alguém, não?
Um elemento que difere o Re[corte]Cultural de outros programas se dá no modo como os quadros são exibidos. Não é o estilo Jô Soares – três blocos, três entrevistados durante quinze a vinte minutos. No Re[corte]cultural, que tem duração de trinta minutos, os três quadros são exibidos de forma fragmentada (no formato e não no conteúdo) e numa miscelânea sem igual dando ao programa uma forma não-linear. Tem-se a impressão que estamos zapeando pelo programa.
A ordem de exibição, segundo o apresentador, não é aleatória e tem uma narrativa lógica, apesar da mistura fragmentada.
Michel Melamed diz que a única certeza é que o essencial do programa é estar sempre em movimento. "O conceito de performace fala que a bora de arte está sendo criada no momento em que ela é apresentada. E a gente trata o programa como arte: sempre em construção"
Não linearidade, espontaneidade, conteúdo: esses três fatores talvez impliquem na não veiculação de programas deste tipo na TV comercial.
Eu, se fosse Gugu, Luciano Huck, João Kleber, Luciana Gimenez, Faustão e Cia, ao ver programas como Re[corte]cultural, pediria para nascer de novo ou me "matava".
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