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Pára-quedismo atrai os jovens viciados em adrenalina e fãs de esportes radicais; Boituva, a 116 km de São Paulo, é um dos lugares mais indicados para a prática
CARLOS MINUANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Estudos, vestibular, trabalho. Cansado da correria do ano que terminou? Seja qual for o seu caso, se a agitação extrapolou e você quer aproveitar verão e férias para relaxar, vai aqui uma dica: salte de pára-quedas.
A receita é simples. Escolha um fim de semana de sol -tarefa simples nessa época do ano- e vá para Boituva, a 116 km de São Paulo. Segundo os adeptos do esporte, após um salto a 12 mil pés de altitude, não há estresse que resista.
O primeiro passo é o salto duplo acompanhado de um instrutor (cerca de R$ 300). "É o parque de diversões do pára-quedismo", diz Rodrigo Castilho, presidente da Associação de Pára-quedismo de Boituva.
Desde os anos 70, a região vem se firmando como centro nacional do esporte. "É a maior área da América Latina e umas das principais do mundo."
Para saltar de pára-quedas, uma característica fundamental é gostar de aventuras. O estudante Tiago Godoy, 19, se encaixa no perfil. "Tenho certeza de que vou gostar", disse pouco antes do primeiro salto. "Até hoje, o máximo que fiz foi pular de "skycoaster" em parques".
Os pais
No caso de Tiago, o principal obstáculo não foi o medo. "Só não havia saltado ainda por causa de meus pais, que não concordavam", desabafa. De acordo com a atual legislação, menores de 18 podem saltar apenas se os pais estiverem presentes.
Para Godoy, saltar de pára-quedas é a melhor alternativa para as férias. Ele garante que não sente medo, mas, ao avistar o avião em que embarcaria estacionando na pista de decolagem, não se contém. "Ai meu Deus, o avião chegou!"
Enquanto praticavam surf em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, durante a virada de ano, as estudantes Letícia Hunaudaye, 18, e sua amiga Sylvie Eaton, 18, decidiram radicalizar na primeira balada de 2008 e saltar de pára-quedas. A empolgação das jovens pegou boa parte da família. No primeiro sábado do ano estavam todos lá: mãe, pai, amiga e até a tia.
"Irado!", gritava Letícia após o pouso. "Pensei que ia morrer". Enquanto o avião decolava, ela conta que apenas se perguntava "o que estava fazendo ali". Na hora do salto, mudou de idéia. "A sensação é incrível", disse, ainda ofegante. "Me senti um pássaro atravessando as nuvens". Apesar do susto e dos gritos, ela promete voltar.
Para Sylvie não foi diferente. "Deu muito medo, não queria mais saltar". Apesar de quase "amarelar" quando a porta do avião se abriu, ela encarou o desafio e não se arrependeu. "Gritei muito, mas, quando senti as nuvens, foi demais!"
Começo precoce
No caso de alguns afortunados, o pára-quedismo começou cedo. No sentido inverso da maioria, para estes jovens, saltar, longe de ser inibido pelos pais, foi quase uma obrigação.
Foi o que aconteceu com a estudante Fernanda Soria, 18. Com apenas 13 anos, ela rasgou o céu de Salvador, em seu primeiro salto duplo. Aos 15, o vôo foi individual "por livre e espontânea pressão" do pai pára-quedista, conta.
Apesar de conhecer o esporte desde o berço, ela já pensou em desistir. "Quando olhei o sorriso de meu pai, de orelha a orelha, percebi que não teria outro jeito", lembra. Hoje, ela trabalha com o pai em uma escola de pára-quedismo e, assim como ele, pretende seguir no esporte.
A convivência com pára-quedistas também facilitou a vida de Rafael Pereira, 16. Desde pequeno, ele trabalha na lanchonete da família, que fica dentro do Centro Nacional de Pára-quedismo. Um dia, um instrutor o convidou para saltar.
Ele tinha 14 anos e se lembra até hoje da ansiedade que sentiu durante os quinze minutos iniciais, tempo entre decolagem e salto. "Durante uma semana fiquei completamente aéreo, só pensando na experiência". Rafael conta os minutos para o próximo salto, desta vez sozinho. "Antes cedo do que tarde", brinca.
É claro que as sensações variam para cada indivíduo. Medo, ansiedade e outros sentimentos entram em erupção. Mas, diferenças à parte, todos concordam em um ponto: a sensação de liberdade ao saltar de pára-quedas é indescritível.
Cursinho
Para quem quiser adotar o esporte, o salto duplo é uma forma segura de testar a aptidão, observa Rodrigo Castilho, presidente da APB. "A partir dele é possível avançar para o individual", informa.
Ele observa, no entanto, que é necessário passar por um curso preparatório com oito horas de instruções teóricas e dez de atividades práticas -em bom português, oito saltos durante um único dia.
Em SP, existem outras áreas para a prática de pára-quedismo, mas Boituva é uma das mais adequadas por suas condições climáticas, geográficas e de infra-estrutura.
O local possui três aeronaves, com capacidade para 15 pessoas cada, e um aeroporto particular. Além disso, a região dispõe de 12 escolas para cursos, treinamentos e salto duplo (veja algumas nas próxima página). Basta uma pesquisa pela internet para localizar várias.
Mas lembre-se: para a sua segurança, antes de saltar, certifique-se de que a escola seja filiada à Confederação Brasileira de Pára-quedismo, entidade que monitora a atividade no país.
"Tentei pegar nuvens com minhas mãos"
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JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Era outubro de 2006 e eu estava na cidade australiana de Byron Bay, lar de ripongos e viajantes do mundo todo. Às 9h, o ônibus me levou ao centro de pára-quedismo. Confesso que, mais do que animação, estava sentindo os efeitos de uma noitada com meus companheiros de albergue.
Nada mais merecido, já que passar o aniversário do outro lado do mundo, longe dos amigos, não é fácil. Por isso, os 450 dólares australianos (cerca de R$ 700) que gastei na ocasião me pareceram justificáveis. Afinal, seriam quase 4.300 metros de queda livre olhando para o mar do meu país favorito.
Subimos no avião, que parecia feito de papel, empurrado pelo vento. A adrenalina foi aumentando e, àquela altura, pular já me parecia mais seguro do que ficar naquele brinquedinho.
Fui a primeira a saltar e, sim, conseguimos dar duas piruetas no ar.
É muito frio lá em cima e a velocidade é tanta que fica difícil respirar. Mesmo gritando com todas as forças, a voz não sai. É inacreditável passar pelo meio das nuvens. Me lembro de tentar pegá-las com as mãos quando o pára-quedas abriu.
Subimos feito ioiô e tudo ficou calmo e pequenininho. As casas, os carros e as pessoas pareciam peças de Lego. Era como sobrevoar uma foto de satélite do Google. Surreal e lindo.
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